(em azul: trajeto de ida; em vermelho: trajeto de volta)

Trajeto da Viagem: De Brasília a Natal (RN), atravessando o interior de Goiás e Bahia, margeando o litoral a partir de Sergipe até o Rio Grande do Norte, com volta pelo sertão nordestino
Período da Viagem: Entre 7 e 20 de setembro de 2006
Dias de Viagem: 14 dias
Quilometragem rodada: 5.572 km
Motos Utilizadas: Honda Falcon NX-4 (Flávio) e Yamaha XT600 (Paulo)
Realizadores: Flávio Faria & Paulo Amaral
Quem Somos: Eu e Paulo somos amigos desde 1992, quando trabalhamos juntos no Banco do Brasil, antes do ingresso definitivo no Serviço Público Federal (eu, no Ministério do Planejamento; e ele, no Ministério Público Federal). Sou sociólogo e antropólogo por formação e compositor e escritor por vocação. Paulo é gaúcho, formado em zootecnia e, posso garantir, trata-se de uma criatura rara, dono de uma serenidade de fazer inveja aos monges tibetanos. Jamais o vi de mau humor ou fazendo qualquer comentário indócil. Foi um companheiro sem frescuras que soube dividir as responsabilidades e as despesas sem qualquer contrariedade. Possuímos experiência e habilidades parecidas e isso foi importante para manter nossa segurança em todos os trechos da viagem.
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(BASTA CLICAR NA FOTO PARA AMPLIÁ-LA)

(Fotos na saída de Brasília e nascer do sol)
RELATADO POR FLÁVIO FARIA
PLANEJANDO A VIAGEM:

Uma aventura responsável começa sempre pelo planejamento. É preciso, antes de botar o pé na estrada, montar um bom roteiro, identificar o trajeto, levantar a situação das rodovias, revisar a motocicleta, arrumar ferramentas e bagagens, dentre outras coisas.
Eu mesmo escolhi um roteiro para ser executado em duas semanas de viagem, entre o dia 7 e 20 de setembro de 2006: o tempo exato de minhas férias no serviço público federal. Meu parceiro Paulo teve pouca influência no planejamento. Qualquer trajeto para ele estava bom, porque conhecia pouco a região nordestina.
Nossa intenção era subir o litoral a partir de Sergipe e ir até 100 km acima de Natal (RN). Para isso precisaríamos deixar o Distrito Federal, atravessar os estados de Goiás e Bahia para chegar ao mar de Aracaju. A partir dali seguiríamos margeando o oceano Atlântico por Alagoas, Pernambuco, Paraíba, até nosso destino, o Rio Grande do Norte.
Nossa jornada de retorno deveria ser realizada através do sertão nordestino, que nenhum de nós conhecia até então. Planejei nossa volta para Brasília pelo interior, não repetindo o trajeto litorâneo da ida. Deveríamos atravessar o Rio Grande do Norte, a Paraíba, parte do estado do Ceará, Pernambuco, Bahia e Goiás. A caatinga e os sertões do Seridó, Caicó, Cariri e do famigerado Polígono da Maconha nos aguardavam nos três dias finais da viagem.
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AS MOTOCICLETAS:
Minha motocicleta é uma Honda Falcon 2006 preta, que estava com 5500 km rodados quando saímos de Brasília, e que chamo carinhosamente de Gumercinda. A moto do Paulo Amaral é uma Yamaha XT600 azul, ano 2004, super conservada. Não é necessário dizer essas motocicletas são do estilo Trail (on-off road style), ou seja, máquinas apropriadas para trafegar tanto no asfalto quanto em estradas não-pavimentadas.
A Falcon é uma moto excelente para se andar em velocidades de até 120 km/h. Acima disso ele balança muito, particularmente quando se está lado a lado com caminhões. A XT600 suporta velocidades maiores, por ter 15 HP a mais que a Falcon, e pode superar os 140 km horários com relativa segurança.
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CONSTATAÇÕES E LIÇÕES DA VIAGEM:

1. Sobre buracos: os buracos da estrada são o inimigo número 1 de qualquer veículo. Não se iludam aqueles que acham que motos estilo Trail suportam a buraqueira. Essas motos foram arquitetadas para trafegar em estradas pavimentadas e não-pavimentadas. Buracos são outra estória. As estradas do Nordeste, excetuando as da Bahia, estão em boas condições. A maioria das estradas baianas, particularmente as estaduais, são a própria sucursal do inferno dos estradeiros.
2. Sobre caminhões: a única coisa que não dá para combinar com os parceiros de estrada é a ultrapassagem de caminhões. Quando se encara a BR 116 ou a BR 101, descobre-se que a melhor maneira é utilizar a super teoria do “vai-quem-pode”. Deve-se obedecer, contudo, a ordem do bonde. Quem está na frente vai primeiro.
3. Sobre chuvas: o maior problema de enfrentar chuvas é a perda substancial da visibilidade. A combinação chuva + caminhões é infernal! O caminhão da frente joga aquele aguaceiro na sua cara; e o que vem no sentido contrário, além da turbulência já conhecida, também produz uma bruma de água e lama que detona por completo o campo de visão do motociclista.
4. Planejamento: Planejei a viagem tentando considerar todas as possibilidades. Pesquisamos as condições da estrada, combinamos a distância a ser percorrida por dia, revisamos a motocicleta e levamos bagagens e ferramentas conjugando o mínimo com o necessário. A execução do planejamento deve sempre deixar portas abertas para um “Plano B”, que na estrada significa mudar a rota por causa dos buracos.
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SOBRE OS BURACOS DAS ESTRADAS (considerações da época da viagem, em 2006):

Vale antecipar, para quem não deseja ler esse relato até seu final, que a grande maioria das rodovias por onde trafegamos estão em bom estado de conservação, excetuando as estradas da Bahia. No caminho de ida, resolvemos fazer o percurso por Bom Jesus da Lapa. A partir de Santa Maria da Vitória começa trecho de 55 km inacreditavelmente ruins. Não tão ruim quanto o que nos aguardava a partir de Bom Jesus da Lapa (até Ibotirama), a famigerada rodovia estadual BA-160, com cerca de 90 km de extensão. A quantidade e a profundidade dos buracos são de amargar. Não há como salvar aquela rodovia com operações tapa-buracos. Só recapando toda ela para dar jeito. A Bahia, além de ter as piores estradas do Nordeste, tem também a gasolina mais cara da região que variou entre R$ 2,80 e R$ 2,90 o litro (contra média de R$ 2,48 em Brasília). A sinalização das estradas também é precária. Acrescente-se a isso que a Bahia é o único estado do Nordeste onde se corre o risco de ficar sem gasolina, tamanha a distância entre um posto e outro.


DIÁRIO DA VIAGEM (Caminho de Ida)

1º dia (7 de setembro de 2006, quinta-feira) - Trecho: de Brasília (DF) a Ibotirama (BA). 815 km percorridos em 11 h de viagem. Tempo parado: 2h26min.

Saímos de Brasília pouquinho antes das 6h da matina, partindo do posto Colorado, nas proximidades de Sobradinho (DF). A estrada (BR 020) apresenta muitos remendos a partir de Formosa (GO), mas não há buracos. Viajamos mantendo velocidade de 110 km/h. A primeira parada para abastecimento foi em Alvorada do Norte (GO), após 242 km percorridos.
Mudamos de rodovia cerca de 90 km depois de Alvorada, BR 349, e seguimos para Correntina (BA), após abastecer novamente nas proximidades do trevo de acesso a esta outra rodovia. A estrada é uma reta sem fim. Chega a dar sono. Pegamos vento lateral em todo território baiano.
Chegamos em Correntina às 11h50min, depois de percorrer 535 km. Fomos direto para o Ranchão, restaurante tradicional que fica em uma ilha do rio Correntes. Lembrei-me da música Pirão de Peixe com Pimenta, de Sá & Guarabyra, que faz homenagem ao lugar (“ê, ranchão de Correntina! Ê, paizinho e alemão! Vamos voltar no próximo verão...”). Ficamos cerca de hora e meia parados no Ranchão degustando delicioso peixe frito.
Em Correntina conheci um ciclista chamado Ébio, que está na estrada há 18 anos e já percorreu mais de 6000 municípios de 8 países. Ele me pediu dinheiro para o almoço e dei a ele R$ 20,00. Para minha surpresa, Ébio começou a chorar. Nunca tinha recebido tanto dinheiro de alguém. Daria até para trocar a câmara de ar da bicicleta Monark amarela. Em troca, por agradecimento, ele me deu uma pedra que retirou do fundo do rio Correntes depois de um mergulho. Dei a ele o adesivo do meu motoclube (Águia Solitária), que ele colou no alforje da bicicleta. Ébio era professor de História em Minas Gerais e, depois de conviver com problemas de depressão, resolveu sair pedalando pelo mundo com objetivo inicial de fazer constar seu nome do Guiness (livro dos recordes). Ele acha que já é detentor do recorde mundial de quilometragem percorrida de bicicleta, mas isso não lhe importa atualmente. Ele não consegue mais parar em lugar algum. Durante esses 18 anos de estrada, perdeu a dentição frontal inferior. Os cabelos longos, razoavelmente encanecidos, e a barba malfeita davam-lhe aparência dos hippies dos anos 60.
Depois que retomamos a viagem é que me dei conta de que não havia tirado uma única foto do ciclista. Fiquei chateado com meu esquecimento, mas era tarde para voltar. Perdi a chance de registrar o encontro com esta pessoa rara e especial. Uma pena!
Chegamos a Santa Maria da Vitória (BA) por volta às 15h40min. A partir dali a estrada fica muito esburacada. Os buracos mais profundos estavam cobertos com cascalho e terra e, por conta disso, não tivemos dificuldades para superá-los. Depois de Bom Jesus da Lapa, pegamos a rodovia estadual BA 160 em direção a Ibotirama. Aquilo ali é um inferno! Não dá para mensurar a quantidade e a profundidade dos buracos desta estrada. Foram 170 km de buracos e mais buracos. Nos 30 km finais, em razão do cansaço, cai em muitos deles e atropelei, literalmente, todos os quebra-molas da estrada. Chegamos a Ibotirama, exatamente às 16h55min, exaustos por causa do longo período de manobras de fuga da buraqueira.
Ao anoitecer, saímos para comer alguma coisa à beira do rio S. Francisco. A cidade é linda e muito limpa. Dormimos cedo, por volta das 21 h, na pousada Glória, que nos custou R$ 60,00 por um apartamento duplo.
Na divisa GO/BA
Em Correntina/BA



Em Correntina/BA


Em Ibotirama/BA

2º dia (8 de setembro de 2006, sexta-feira) – Trecho: de Ibotirama (BA) a Estância (SE). 794 km percorridos em 10h50min de viagem. Tempo parado: 1h43min.

Deixamos Ibotirama às 6h50, em direção a Aracaju (SE). Pegamos a BR 242 com o asfalto em excelente estado. A pista havia sido recapada recentemente naquele trecho. Resolvemos andar mais rápido. O céu estava nublado e isso reduziu o calor em relação ao dia anterior. A estrada ganha curvas de alta e de baixa velocidade. Tudo o que pedia a Deus naquele momento. A convivência com retas e mais retas é extremamente cansativa. O horizonte ganha belezas raras. Havíamos passado pela Serra da Mangabeira um pouco antes das 9h. Logo adiante atravessamos a Chapada da Diamantina. Naquele trecho, uma emoção esquisita tomou conta de mim. Marejei os olhos dentro do capacete, inexplicavelmente. Minha mente navegava em lembranças antigas: lembrava-me de meus filhos ainda pequenos, dos seus primeiros passos, do primeiro banho, etc. e, de repente, surge aquele cenário lindo à minha frente! Emocionei-me de um modo diferente. A luz do sol criava fachos de luz que atravessavam as nuvens acinzentadas, iluminando os chapadões e os cumes mais elevados. Paramos para tirar fotografias em diversos locais.
Seguimos embevecidos até pegar a BR 116, a 70 km de Feira de Santana. Ali a quantidade de caminhões impressiona. Eram filas de veículos pesados seguindo lentamente um atrás do outro. Cheguei a ultrapassar 7 caminhões em única arremetida. Meu parceiro Paulo sumia por longos minutos do retrovisor da Gumercinda. Era raro conseguirmos executar a ultrapassagem simultaneamente.
Chegamos à Feira de Santana às 13h25 sob tempo fechado. As nuvens negras anunciavam chuva pesada mais à frente. Dito e feito. Colocamos o macacão de chuva e lá fomos nós, trafegando agora pela BR 101. Os caminhões ocupavam a pista, em grande número. A combinação caminhão + chuva é o inimigo nº 2 do motociclista. Visibilidade próxima de zero. Água, lama, turbulência e ventania.
Adentramos Sergipe nessa situação: água para todo lado. Porém, a chuva não nos atrapalhou a observar o cenário maravilhoso das terras sergipanas. As planícies extensas, recheadas de coqueirais, eram prenúncio de que estávamos próximos do litoral.
Às 17h30min já estava muito escuro. Nosso objetivo de chegar a Aracaju não seria cumprido. Por causa da escuridão e da baixa visibilidade, temíamos cair em algum dos buracos que apareciam intermitentes pela rodovia.
Optamos por dormir em Estância, 75 km antes de Aracaju. Ficamos na pousada Jardim, a preço de R$ 60,00 por dois apartamentos individuais.




3º dia (9 de setembro de 2006, sábado) – Trecho: de Estância (SE) a Piaçabuçu (AL). 231 km percorridos.
Saímos de Estância por volta das 7h45. Chegamos em Aracaju sob tempestade. Tivemos que parar embaixo de um viaduto por quase 1 hora. Proseamos com um nativo que morava embaixo do viaduto e com muitos motociclistas que paravam, como nós, para se abrigar da chuva. O tempo não melhorava e resolvemos seguir assim mesmo. Paramos novamente embaixo da marquise de um posto de gasolina para nos proteger da tempestade. Após 30 minutos, a chuva estancou. O sol surgiu tímido no horizonte. Fizemos um tour pelo extenso litoral de Aracaju. Por volta das 10h30, sentamos em um restaurante na praia de Atalaia. Tirei minha calça jeans e coloquei sobre o baú da moto para secar. O sol ia ganhando força e já dava até para encarar um mergulho no mar. Preferimos ficar no restaurante, olhando as ondas e o povo transitando pela areia. A largura das praias impressiona e isso permite a prática de futebol de areia em quase todos os trechos. Aracaju é uma cidade muito bonita e ampla. As ruas são largas e o trânsito organizado. Não tivemos problema para entrar ou sair da cidade.
Resolvemos seguir para Alagoas logo depois do almoço, por volta das 14 h. Paramos em um posto de gasolina para abastecer. Fui ao banheiro. Quando volto observo que algo de errado aconteceu. Meu amigo Paulo, ao descer de sua moto, desequilibrou-se e caiu sobre a minha, derrubando-a no chão. Fato inusitado! Resultado: a manete do freio havia quebrado na queda. Naquele horário, as concessionárias já tinham fechado e, convém lembrar, era sábado. Nessa busca por uma oficina aberta, parei para conversar com o Paulo e apoiei o descanço da minha moto sobre terreno enlameado. Resultado, a Gumercinda deslizou e foi para o chão novamente, pela segunda vez em menos de 30 minutos. Tivemos que contratar um moto-táxi para encontrar uma loja aberta naquele horário. Se não arrumasse a manete do freio não seria possível seguir viagem. No frigir dos ovos, tudo acabou dando certo e trocamos a peça por apenas R$ 5,00.
Pegamos novamente a BR 101 e andamos pequeno trecho de 60 km até a entrada de Neópolis. O Telmo, membro da ala goiana do meu moto-clube, havia nos dado uma dica incrível: adentrar o estado de Alagoas por Penedo, atravessando de balsa o rio S. Francisco. Lá fomos nós. Pegamos pequeno trecho de 5 km de estrada não-pavimentada e chegamos a Santana do São Francisco (lado sergipano), onde pegamos a balsa para o lado alagoano.
Penedo nos aguardava do outro lado do Velho Chico. A cidade é linda! As igrejas, as praças, as ruas margeando o rio, os igarapés e o grande número de embarcações fazem dela uma localidade de rara beleza no cenário nordestino. Dali seguimos para Piaçabuçu, o município mais próximo da foz do S. Francisco. Lá chegando, jantamos na churrascaria do Sinézio, que nos acolheu e bebeu algumas cervejas conosco. Conversarmos até as 22 horas.
Dormimos na pousada Santiago, às margens do rio, a um preço de R$ 60,00 por dois apartamentos. A hospedaria era muito modesta, sem água quente e sem TV e, ainda, com chuveiro vazando pelas laterais.
(fotos em Aracaju (sob chuva); do Rio S. Francisco (antes da travessia de balsa); de Penedo/AL; de Piaçabuçu e da Foz do S. Francisco)






(fotos em Aracaju, Piaçabuçu e Foz do São Francisco)

4º dia (10 de setembro de 2006, domingo) – Trecho: de Piaçabuçu (AL) a Maceió (AL). 136 km percorridos.
(Conhecendo a Foz do Rio São Francisco) - Pela manhã, contratamos um barco a motor para nos levar à foz do S. Francisco. Custou R$ 70,00, mas valeu o preço. O passeio é maravilhoso! Tínhamos a opção de chegar ao local de moto, transitando pela praia a partir do Pontal do Peba, cidade ao lado de Piaçabuçu, mas preferimos fazer o trajeto de barco. O encontro do Velho Chico com o mar dá-se num cenário repleto de praias extensas, de perder de vista. Ficamos por lá cerca de 2 horas, mergulhando ora na água doce, ora na água salgada. Deixamos a cidade antes do meio-dia e fomos almoçar no Pontal do Peba. Por volta das 14 h seguimos para Maceió através da AL 101, a melhor e a mais bela rodovia estadual por onde trafegamos durante toda a viagem. Pegamos chuva em grande parte do percurso.
(Em Maceió) -Na capital Alagoana, reparei que a estrutura metálica do meu bagageiro, que sustenta o baú, havia se rompido. Tentei comprar outro bagageiro nas duas concessionárias Honda da cidade, mas não encontrei. Foi o motorista de uma das concessionárias quem soldou a peça, garantindo que não teria problemas até o final da viagem. Ele acertou em cheio. Andei mais de 3.000 km sem qualquer dificuldade.
Em Maceió ficamos numa pensão muito ajeitada na praia de Jatiúca, que nos custou apenas R$ 50,00 por dois quartos independentes. Demos um passeio pelas praias e estacionamos demoradamente na praia do Francês - a melhor da cidade, a meu ver.









(Fotos em Maceió)

5º dia (11 de setembro de 2006m, segunda-feira) – Trecho: de Maceió (AL) a Recife (PE). 312 km percorridos.

(Chegando em Recife, passando por Maragogi, S. José da Coroa Grande e Porto de Galinhas) - Continuamos a viagem margeando o oceano. Extensos coqueirais ladeiam a rodovia. Almoçamos em Maragogi e adentramos Pernambuco. Paramos em São José da Coroa Grande, onde meu irmão caçula havia morado tempos atrás, para tirar fotos. Chegamos a Porto de Galinhas por volta das 16 h. Muitas fotos e filmagens do local. Abastecemos e seguimos viagem, temerosos de pegar a noite na estrada. Não deu outra. Tivemos que pilotar no escuro sob chuva fina na chegada em Recife. Não dava para enxergar quase nada. Aplicamos a estratégia de andar atrás de algum carro. Lá fomos nós por cerca de hora e meia na escuridão. Ao chegar na cidade, por volta das 19 h, o trânsito parecia o da grande São Paulo. Engarrafamento monstro. Perguntei a um motoboy como se chegava à praia de Boa Viagem e ele me pediu para segui-lo. Estava indo para lá. Foi praticamente impossível perseguir um motoboy naquele trânsito infernal. Mas ele foi paciente e percebeu que nossas motos, carregadas de bagagem, não estavam em condições de trafegar pelos corredores dos automóveis.
Fomos direto para o hotel Atlantic Plaza. Tenho convênio da Bancorbrás e, pela primeira vez, pudemos usufruir uma hospedagem de nível.
Naquela mesma noite fomos de táxi ao Recife Antigo. Como era segunda-feira, todos os bares e restaurantes estavam fechados. Visitamos o shopping Paço da Alfândega e jantamos por lá.



Porto de Galinhas/PE


Porto de Galinhas/PE

Maragogi/AL

Porto de Galinhas/PE

S. José da Coroa Grande/PE

6º dia (12 de setembro de 2006, terça-feira) – Passeando a pé e de ônibus por Recife e Olinda.
(Conhecendo Recife Antigo e Olinda)
- Andamos a pé pelas praias e ruas da cidade até cansar a alma. Depois pegamos um coletivo para o Recife Antigo e tiramos dezenas de fotos. A segurança dos locais turísticos estava em níveis exagerados. Em cada esquina havia dois policiais estilo Cosme e Damião.
Do centro histórico de Recife fomos para Olinda, novamente de ônibus. Andamos pelas ladeiras íngremes e fizemos um tour pelas igrejas e mosteiros da cidade. Tomamos algumas cervejas nas proximidades do Clube Vassourinhas e voltamos para o hotel no final da tarde.






(Fotos em Recife e Olinda)

7º dia (13 de setembro de 2006, quarta-feira) – de Recife (PE) a João Pessoa (PB). 142 km percorridos.
(Seguindo para João Pessoa/PB) - Saímos de Recife por volta das 8 h. Estávamos ansiosos para chegar a João Pessoa e curtir uma boa praia. Viagem tranqüila e rápida, com algumas chuvas intermitentes no caminho. Fomos direto para o hotel Othon Atlântico Praia, em Tambaú. Mais um bom hotel pelo convênio da Bancorbrás. Depois de descarregar as bagagens, nos dirigimos para um restaurante bem ajeitadinho na frente do hotel e encontrei com o Edir, meu amigo de longas datas, que também reside em Brasília. Ele estava descendo de Natal (nosso próximo destino) e falava sem parar das belezas da praia de Pipa. Resolvemos almoçar juntos no tradicional restaurante Mangai. Depois de comer como um touro, só mesmo uma boa sesta. Foi o que fiz a tarde inteira enquanto meu parceiro Paulo saiu para encontrar com seu velho amigo Arthur, que havia se mudado para João Pessoa há cerca de 10 anos.
À noite, passeamos pelo litoral da cidade e fomos dormir cedo.

8º dia (14 de setembro de 2006, quinta-feira) – Em João Pessoa (PB). Aproximadamente 120 km percorridos em deslocamentos turísticos.
(Conhecendo João Pessoa, Tambaba e Jacumã) - Pela manhã fomos às praias de Tambaba e Jacumã. Ninguém havia me alertado que Tambaba é uma praia de naturismo (que se diferencia do nudismo pelas regras). Não tiramos a roupa e ficamos perambulando pelas redondezas. Na volta passamos pela Ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas. Ainda consegui, neste dia, fazer a revisão dos 9.000 km da Gumercinda na concessionária local da Honda.
À noite, fomos ao encontro dos moto-clubes de João Pessoa, que acontece todas as quintas-feiras no bar da Fava, ao lado do nosso hotel. Fomos a pé mesmo, acompanhado pelo Arthur, amigo do Paulo, que levou toda a família. Um evento delicioso de congraçamento entre os apreciadores de motocicletas. Sentimo-nos em casa.










(fotos em João Pessoa e Tambaba) 

9º dia (15 de setembro de 2006, sexta-feira) – de João Pessoa (PB) a Natal (RN). 302 km percorridos.
(Seguindo para Natal, passando pela Praia de Pipa) - Saímos de J. Pessoa às 7h30min em direção à praia de Pipa (RN). Pipa é distrito do município de Tibaú do Sul e deve-se entrar por Goianinha. Não havia nenhuma placa indicativa e erramos a entrada. Tivemos que andar 60 km a mais por conta disso.
O mar em Tibaú é de uma beleza indescritível, de verde-claro intenso. Centenas de dunas nos acompanham pelo lado direito da pista, enquanto o mar mantém-se à nossa esquerda. Falésias margeiam todo o litoral.
Chegamos a Pipa antes das 9 h e por lá ficamos cerca de 7 h consecutivas. Passamos a maior parte do tempo sentados em um barzinho que nos permitia ver toda a orla. A quantidade de turistas era surpreendente, particularmente paulistas e de origem européia.
Fizemos boa caminhada até a enseada onde os golfinhos, geralmente, surgem para deleite dos visitantes. Ficamos investigando o mar por algumas horas e não vimos nenhum. Conversei em inglês com alguns turistas italianos que viram dois golfinhos próximos à praia. A presença de falésias circundando a enseada trouxe-me lembranças de algumas cenas do filme O Carteiro e o Poeta.
Deixamos Pipa, por volta das 16h, em direção a Natal. Vale ressaltar que, desde Recife, registramos a presença marcante de diversos pelotões do Exército trabalhando na duplicação da BR 101. Em Natal, ficamos hospedados no hotel Ponta do Mar, em Ponta Negra. A rua era muito íngreme e não houve como apoiar adequadamente a motocicleta. Ventava muito. Enquanto preenchia o formulário da pousada, alguém gritou: “uma moto caiu no chão!”. Era a minha, que caía pela terceira vez nessa viagem, aparentemente derrubada pela ventania. Falei para ela, enquanto a reerguia do chão: “Gumercinda, Gumercinda, se você continuar nesse ritmo vou te mandar pro ferro velho antes do seu primeiro aniversário”. Valeu a ameaça, porque ela não caiu mais!
Naquela mesma noite caminhamos pela orla e jantamos comida italiana.

(Fotos em Tibaú do Sul e Pipa/RN)




10º dia (16 de setembro de 2006, sábado) – em Natal (RN). Aproximadamente 200 km percorridos em deslocamentos turísticos.
(Passeando por Natal e arredores) - Passamos o dia em Jenipabu, depois de tomar a balsa e atravessar o braço de oceano que a separa da cidade de Natal. Não nos deixaram chegar à praia pelas dunas de moto. Só bugueiros autorizados pela Secretaria de Turismo podem passar. Tivemos que pagar pelo estacionamento e andar a pé.
Tentamos ir a Pitangui, mas começou a chover e ninguém nos dava informação correta de como chegar lá. Voltamos para Natal, da mesma forma que viemos, levando as motocicletas na balsa. Depois de uma chuvinha rápida a temperatura voltou a subir. Fomos dar um rolé em Pirangi, que além da praia belíssima, possui o maior cajueiro do mundo. Subimos no mirante para observar o superdotado pé de caju que ocupa uma quadra inteira da cidade.
Aproveitamos a noite para visitar minha amiga jornalista Lúcia Leão, de Brasília, que estava em Natal trabalhando na campanha de um candidato ao governo potiguar. Ela fez uma recepção para nós em seu aparthotel, na Praia dos Artistas, e convidou alguns colegas de trabalho para uma noitada regada a cerveja e violão. Fomos dormir por volta das 2 h da matina.




(Fotos em Natal, Jenipabu e arredores)

11º dia (17 de setembro de 2006, domingo) – em Natal (RN).
(Preparando para voltar a Brasília) - Passamos a manhã na praia e fomos almoçar com a Lúcia. Reservamos o período da tarde para descansar e nos preparar para a maratona da volta, que se iniciaria no dia seguinte. Passeamos pela praia de Ponta Negra e curtimos a piscina do hotel. Dormimos por volta das 20 h, tentando descansar ao máximo para o retorno à Brasília, previsto para ser executado em 3 dias inteiros de viagem. (Fotos com a amiga Lúcia Leão, Natal e arredores)