RELATADO POR FLÁVIO FARIA
PLANEJANDO A VIAGEM:

Uma aventura responsável começa sempre pelo planejamento. É preciso, antes de botar o pé na estrada, montar um bom roteiro, identificar o trajeto, levantar a situação das rodovias, revisar a motocicleta, arrumar ferramentas e bagagens, dentre outras coisas.
Eu mesmo escolhi um roteiro para ser executado em duas semanas de viagem, entre o dia 7 e 20 de setembro de 2006: o tempo exato de minhas férias no serviço público federal. Meu parceiro Paulo teve pouca influência no planejamento. Qualquer trajeto para ele estava bom, porque conhecia pouco a região nordestina.
Nossa intenção era subir o litoral a partir de Sergipe e ir até 100 km acima de Natal (RN). Para isso precisaríamos deixar o Distrito Federal, atravessar os estados de Goiás e Bahia para chegar ao mar de Aracaju. A partir dali seguiríamos margeando o oceano Atlântico por Alagoas, Pernambuco, Paraíba, até nosso destino, o Rio Grande do Norte.
Nossa jornada de retorno deveria ser realizada através do sertão nordestino, que nenhum de nós conhecia até então. Planejei nossa volta para Brasília pelo interior, não repetindo o trajeto litorâneo da ida. Deveríamos atravessar o Rio Grande do Norte, a Paraíba, parte do estado do Ceará, Pernambuco, Bahia e Goiás. A caatinga e os sertões do Seridó, Caicó, Cariri e do famigerado Polígono da Maconha nos aguardavam nos três dias finais da viagem.
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AS MOTOCICLETAS:
Minha motocicleta é uma Honda Falcon 2006 preta, que estava com 5500 km rodados quando saímos de Brasília, e que chamo carinhosamente de Gumercinda. A moto do Paulo Amaral é uma Yamaha XT600 azul, ano 2004, super conservada. Não é necessário dizer essas motocicletas são do estilo Trail (on-off road style), ou seja, máquinas apropriadas para trafegar tanto no asfalto quanto em estradas não-pavimentadas.
A Falcon é uma moto excelente para se andar em velocidades de até 120 km/h. Acima disso ele balança muito, particularmente quando se está lado a lado com caminhões. A XT600 suporta velocidades maiores, por ter 15 HP a mais que a Falcon, e pode superar os 140 km horários com relativa segurança.
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CONSTATAÇÕES E LIÇÕES DA VIAGEM:

1. Sobre buracos: os buracos da estrada são o inimigo número 1 de qualquer veículo. Não se iludam aqueles que acham que motos estilo Trail suportam a buraqueira. Essas motos foram arquitetadas para trafegar em estradas pavimentadas e não-pavimentadas. Buracos são outra estória. As estradas do Nordeste, excetuando as da Bahia, estão em boas condições. A maioria das estradas baianas, particularmente as estaduais, são a própria sucursal do inferno dos estradeiros.
2. Sobre caminhões: a única coisa que não dá para combinar com os parceiros de estrada é a ultrapassagem de caminhões. Quando se encara a BR 116 ou a BR 101, descobre-se que a melhor maneira é utilizar a super teoria do “vai-quem-pode”. Deve-se obedecer, contudo, a ordem do bonde. Quem está na frente vai primeiro.
3. Sobre chuvas: o maior problema de enfrentar chuvas é a perda substancial da visibilidade. A combinação chuva + caminhões é infernal! O caminhão da frente joga aquele aguaceiro na sua cara; e o que vem no sentido contrário, além da turbulência já conhecida, também produz uma bruma de água e lama que detona por completo o campo de visão do motociclista.
4. Planejamento: Planejei a viagem tentando considerar todas as possibilidades. Pesquisamos as condições da estrada, combinamos a distância a ser percorrida por dia, revisamos a motocicleta e levamos bagagens e ferramentas conjugando o mínimo com o necessário. A execução do planejamento deve sempre deixar portas abertas para um “Plano B”, que na estrada significa mudar a rota por causa dos buracos.
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SOBRE OS BURACOS DAS ESTRADAS (considerações da época da viagem, em 2006):

Vale antecipar, para quem não deseja ler esse relato até seu final, que a grande maioria das rodovias por onde trafegamos estão em bom estado de conservação, excetuando as estradas da Bahia. No caminho de ida, resolvemos fazer o percurso por Bom Jesus da Lapa. A partir de Santa Maria da Vitória começa trecho de 55 km inacreditavelmente ruins. Não tão ruim quanto o que nos aguardava a partir de Bom Jesus da Lapa (até Ibotirama), a famigerada rodovia estadual BA-160, com cerca de 90 km de extensão. A quantidade e a profundidade dos buracos são de amargar. Não há como salvar aquela rodovia com operações tapa-buracos. Só recapando toda ela para dar jeito. A Bahia, além de ter as piores estradas do Nordeste, tem também a gasolina mais cara da região que variou entre R$ 2,80 e R$ 2,90 o litro (contra média de R$ 2,48 em Brasília). A sinalização das estradas também é precária. Acrescente-se a isso que a Bahia é o único estado do Nordeste onde se corre o risco de ficar sem gasolina, tamanha a distância entre um posto e outro.


Um comentário:

Unknown disse...

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